quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Tom Waits



Glitter and Doom Live
Anti, 2009

Glitter and Doom! Sacana do Tom Waits, só ele para arranjar um tal titulo! Dito isto, tenho duas boas razões para, logo à partida, celebrar a chegada de um novo disco dele: é duplo e foi gravado ao vivo. Mas há mais: a voz está mais cavernosa do que nunca e a sua música raramente soou tão essencial.
Glitter and Doom Live é uma daqueleas obras que nos dá a volta às tripas. Ouves aquelas histórias, cantadas daquela maneira, e pensas: “Está lá tudo, até o sangue de que são feitos os únicos sonhos que vale a pena ter e a esperma que entope as canetas de quem procura o indizível”.
Tenho com Tom Waits pelo menos esta coisa em comum: também a minha voz foi ao limite das suas possibilidades e se voltou do avesso. Só que a minha não se ouve e a dele dá a volta ao mundo, telúrica e arrasadora como é.
Nas últimas fotos (veja-se mais acima), acentuou-se o seu ar de sátiro. Não custa imaginar que esconde uma cauda nas calças e pés bífidos nos sapatos.
Ouçam este disco como se a vossa vida estivesse em jogo (é a única maneira do apreciar devidamente), atentem na reacção dos vários públicos (foi gravado em várias cidades) e digam lá se Tom Waits não é um inultrapassável animal de palco.
Kafka que me perdoe a heresia, mas cá para mim, se o Gregor Samsa d’A Metamorfose cantasse, o que ouviríamos poderia perfeitamente figurar, como "bonus track", neste Glitter and Doom Live.