
1970
NorteSul, 2006
Como acontecia com 1972 de Josh Rouse, 1970 remete para o ano do nascimento do seu autor. No entanto, os primeiros acordes do primeiro álbum de originais de JP Simões, em tons de amarelo, verde, azul e branco, transportam-nos é para o Brasil dos anos 50, já que nos vem à memória a Sinfonia do Rio de Janeiro de Tom Jobim, recentemente reeditada. No notável tema seguinte, que dá o título ao álbum, o que ouvimos, essencialmente, é uma versão lusa de Chico Buarque a ironizar sobre uma geração à deriva, que conhecemos muito bem. À medida que vamos avançando no disco, vai-se impondo a ideia de que se musicalmente quase tudo aponta o outro lado do Atlântico (Cole Porter e vários nomes de Tin Pan Alley e do jazz poderiam ser também citados a propósito de outras canções), no que respeita às letras a «filiação» é bem diferente: José Mário Branco, em primeiro lugar (de quem JP retoma aqui «Inquietação», única «cover do álbum»), mas também Sérgio Godinho e Vitorino, por exemplo. Não é elogio pequeno afirmar que JP Simões está à altura dessa linhagem ilustre. Já bastas vezes se escreveu que JP Simões é um dos melhores compositores de canções da sua geração e 1970, mesmo sendo uma obra desigual, confirma plenamente essa ideia. Finalmente, as suas maiores limitações são como vocalista, ainda que se defenda bem a esse nível, adoptando um registo de «crooner», ocasionalmente «diseur», em perfeita consonância com a «insegurança absoluta» que ele próprio refere. Fica a dúvida se, pelo menos em algumas canções, JP Simões não deveria fazer como Rodrigo Leão e convidar cantores para as interpretar.