
Mares Profundos
Deutsche Grammophon, 2003
Virginia Rodrigues é uma cantora enorme. Enorme em volume, mas também em talento. O seu canto vem do mais profundo que existe num ser humano e chega a ser arrepiante. Caetano Veloso (de quem se diz que chorou quando a ouviu cantar pela primeira vez) é um dos mais activos admiradores, e participou de resto neste disco que se atreve a recriar os oito «afro-sambas» criados por Baden Powell e Vinicius de Moraes há cerca de 30 anos (1966), acrescentando-lhes quatro outros temas na mesma veia. Heresia das heresias, há quem afirme que estas versões, percorridas pelo espírito do candomblé e um sopro evidente de modernidade, superam os originais. Na verdade, o material é sublime e os músicos excelentes, para não falar dos arranjos (da responsabilidade de Luiz Brasil) que se inspiram no repertório tradicional da Bahia para nos imbuir, sem apelo nem agravo, da poderosa espiritualidade que encerram estas canções, tão belas como pungentes. Apetece gritar «bis!»