quarta-feira, 18 de março de 2009

Filipa Pais, José Peixoto



Estrela
Zona Música, 2004

José Peixoto, na altura ainda guitarrista dos Madredeus, tinha guardado uma boa memória da sua colaboração com Filipa Pais no projecto Lua Extravagante, de que ambos fizeram parte. Desde esse tempo ficara no ar a promessa de uma colaboração futura entre os dois. Em Aceno, que José Peixoto publicou em 2003, Filipa Pais emprestara a sua voz a dois temas e o guitarrista gostou tanto da experiência que, talvez até inconscientemente, começou a escrever novas canções a pensar nela. Quando as fez ouvir à cantora, Filipa sugeriu João Monge para escrever algumas letras e ficaram aos encantados com o resultado. E mais ainda ficaram quando a equipa ficou completa com Mário Delgado (guitarra), Yuri Daniel (contrabaixo) e Quiné (percussão), no fundo colaboradores e amigos de sempre. Em Maio, quando entraram em estúdio, as canções já tinham ganho corpo e meia dúzia de dias de gravação foram suficientes para que as 14 canções ganhassem a sua forma final. Quando falei com eles, os «pais da criança» estavam radiantes. Falavam de Estrela como de uma filha e a verdade é que a criança é bonita até na embalagem (muito cuidada, cartonada, com um livrinho de 32 páginas, bilingue, com as letras das canções e muitas fotos). Estrela é, sem dúvida alguma, um trabalho coerente com o percurso de cada um. E a sintonia entre os dois é tão perfeita que nos espantamos por esta colaboração não ter surgido há mais tempo. Musicalmente, o disco move-se no «universo da música popular de raiz mediterrânica», mas vai mais além. É toda a obra do José Peixoto que aflora aqui, das suas raízes jazzísticas às experiências no seio dos Madredeus. Nesse sentido, Estrela é um pouco um «disco-soma», que se dá ao luxo de ter vários hits: «Dia da tentação», por exemplo, mas tamém ou sobretudo «O que é que tu tens», uma daquelas canções que se «colam» instantaneamente ao ouvido.