terça-feira, 10 de março de 2009

Paolo Conte



Rêveries
Nonesuch, 2003

Ouvir Paolo Conte traz-me sempre à memória Tom Waits. A voz do italiano lembra-me a do americano. Impossível dizer qual dos dois fumou mais ou qual deles aguenta melhor o álcool, mas uma coisa é certa: tal como certos rostos estão marcados por tudo quanto viveram, nas vozes graves e profundas de Paolo e Tom ouço as minhas rugas e cicatrizes. Essa é mesmo uma das características que faz a sua força, ou que mais me emociona, quer num quer noutro. Separados por um oceano e culturas muito diferentes, os universos de Waits e Conte não estão assim tão apartados um do outro, pelo menos na minha imaginação, evocando ambos o mesmo tipo de cenários: os bares-jazz de má nota, os filmes negros, os bailes dos mais deserdados, algum cabaret em Paris-França ou mesmo em Paris-Texas. Rêveries, publicado em 2003, é - como o nome indica - uma espécie de longo e enriquecedor devaneio, um verdadeiro convite à viagem pela memória (a sua, mas também a nossa), pois para o seu primeiro disco para uma etiqueta norte-americana - a conceituada Nonesuch, onde também publicam Philip Glass, John Adams e Kronos Quartet - o «crooner» piemontês optou por reinterpretar algumas das suas melhores canções, com novos arranjos e novos (e melhores) músicos. Um disco para sonhar acordado, literalmente.