quarta-feira, 4 de março de 2009

Ed Motta



Caetano Veloso disse que ele era, «possivelmente, o mais exuberante talento musical que se desenvolveu no Brasil nos anos 1990». Quase não valeria a pena acrescentar mais nada. Mas para quem não saiba diga-se que Ed Motta é um poço de cultura musical, cuja obra mistura samba-jazz, MPB, bossa nova, funk, disco-sound, reggae, dub, chanson, cha-cha-cha, rock e sonoridades raras. Depois de, em 2001, nos ter surpreendido com Dwitza, belo ensaio instrumental, o sobrinho de Tim Maia regressou em 2003 com Poptical, um punhado de canções de raiz funk, com pinceladas jazzy-soul, que fazem dele uma espécie de «crooner» retrofuturista à espera de entrar no próximo filme de David Lynch.
Na véspera do músico se deslocar a Portugal para concertos no Paradise Garage, em Lisboa e, no dia seguinte, no Hard Club, em Gaia, pude colocar-lhe algumas perguntas por telefone.

Parece ter desenvolvido uma fixação nos anos 70 e nos Estados Unidos... Gostaria de ter vivido nessa época?
Quando era garoto e no começo da carreira, meu foco de interesse era bastante mais ligado à música negra norte-americana. Através do jazz, mais precisamente do pianista Bill Evans e sua associação com o maestro alemão Claus Ogerman, colaborador intenso da obra de Tom Jobim. A bossa nova é a genial simbiose do samba com sequências harmónicas dos «standards» americanos. Depois passei a estar atento às harmonias brasileiras infectadas de influência americana, desde o paralelo Pixinguinha/Duke Ellington nos anos 40. E a minha música avançou conceptualmente. Em relação ao que me pergunta, gostaria de viver a estética dos anos 50 e 60 com a liberdade dos 70, o dinheiro dos 80 e a tecnologia do ano 2000.

Porque não escreve as suas próprias letras?
Porque se tivesse de lidar com as palavras teria de ser de uma forma mais jornalística que poética.

Fale-me do programa que tem na rádio.
Existe meu programa de rádio na Internet há dois anos (www.edmotta.com. br). Antes tinha um programa em FM, em 1992. Tenho esse programa para mostrar músicas das prateleiras mais especializadas. Sou coleccionador de várias coisas e colecciono edições em vinil. O coleccionismo ocupa um espaço importante no meu tempo e na minha casa, a qual parece um depósito de coisas que adoro. Os discos sempre foram praticamente a minha respiração! Hoje tenho quase 30 mil LP e vários CD de tudo e de toda a música. E a rádio é utilizada para mostrar um pouco disso.

O título do seu disco anterior não pretendia significar nada, mas este parece ter um significado concreto...
O que é um significado? Será que o significado significa alguma coisa? Que nos salvem Godard e David Lynch!