
Specialist in All Styles
World Circuit, 2002
Nick Gold, o senhor todo poderoso da World Circuit, a mais importante editora independente na área da world music, apaixonou-se pela Orchestra Baobab nos anos 80. Ele próprio me contou isso mesmo. «Ouvi-os pela primeira vez em casa de uns amigos e gravei uma cassete que ouvi vezes sem conta. Primeiro adorei as texturas e as melodias, depois o guitarrista Barthelemy Atisso, que continua a ser um dos meus preferidos». Gold acabou por encontrar, mais tarde, na Feira da Ladra de Paris, um outro disco da orquestra senegalesa e adquiriu imediatamente os direitos. Nasceu assim Pirates Choice, um disco que não me cansarei nunca de recomendar.
A Orquestra Baobab foi formada, nos anos 70, pelos patrões de uma discoteca chique de Dakar, com base em artistas recrutados em vários países africanos. Com a sua mistura de ritmos africanos e cubanos, o grupo tornou-se rapidamente num dos mais influentes de toda a África Ocidental e o seu sucesso durou 20 anos. O interesse pelas suas rumbas e boleros cantados em wolof só decresceu com o aparecimento de Youssou N´Dour e do «m´balax», frenético ritmo eléctrico que «estoirou» no Senegal no início dos anos 80. Ironicamente, o mesmo Youssou N´Dour surge agora associado ao reaparecimento dos Baobab, tendo inclusive participado na produção deste Specialist in All Styles.
A verdade é que a Orquestra Baobab já não existia e o guitarrista de que Nick Gold tanto gostava, Barthelemy Attiso - hoje em dia advogado -, já não tocava há mais de dez anos. O editor teve mesmo que lhe arranjar uma nova guitarra eléctrica, uma Les Paul, igual à que ele tocava na altura. Atisso - que tinha aprendido a tocar guitarra sozinho, com a ajuda de um livro, um Guia Marabout intitulado J´Apprends à Jouer la Guitarre - teve que reaprender a tocar: os seus dedos estavam ferrugentos e já não lhe obedeciam como antes. Poucos meses bastaram, no entanto, para reencontrar a forma e o seu estilo muito peculiar, como este álbum brilhantemente prova.
Specialist in All Styles soa ainda mais fresco e espontâneo que as antigas gravações e os temas que retomam do passado («Sutukum» e «On Verra Ça», por exemplo) parecem ter sido compostos na véspera. Para este regresso em beleza, Nick Gold deu-se mesmo ao luxo de convidar o cubano Ibrahim Ferrer (entretanto falecido) a cantar num dos temas e, apesar de algumas dificuldades de adaptação, a magia acabou por operar. Deliciosamente revivalista, Specialist in All Styles é, para já, um dos melhores discos de música africana do século XXI.