domingo, 15 de fevereiro de 2009

Manu Chao



La Radiolina
K Industria, 2007

Em França, a generalidade da crítica considerou que La Radiolina não trazia nada de novo à obra de manu Chao, não passando da repetição preguiçosa de uma fórmula de sucesso assegurado. Permitimo-nos discordar. É verdade que La Radiolina assenta na habitual mistura imparável (e por vezes irresistível) de rock, rai, rap e ritmos caribenhos, mas as percussões nunca soaram tão urgentes, os metais tão insistentes e as guitarras tão inflamadas como neste álbum. Como sempre, há abundância de letras cáusticas, politizadas e virulentas, cantadas em várias línguas, do espanhol ao inglês, passando pelo italiano, o francês e até o português. No entanto, La Radiolina é também o mais confessional dos seus discos e mistura ataques a Bush («Tristeza maleza») e críticas acesas ao sistema («Politik kills» ou «Me llamam calle», por exemplo) com desabafos sobre amores perdidos («13 dias») e a angústia perante a ideia de morrer («Otro mundo»). Por detrás da explosão de palavras coloridas e da profusão de ritmos sobrepostos (Manu Chão lembra-se aqui que já foi punk e roqueiro), que atira para o ar como se disparasse flores em direcção ao mundo, esconde-se um revolucionário que procura desesperadamente não deixar esmorecer a chama. Certas letras dão a ideia de um sonhador arrastado para territórios que não conhece ainda. La Radiolina é, se ouvirem bem, uma festa brava com fundo triste (em primeiro plano soltam-se balões e foguetes, mas ao fundo passa um enterro). Não é por acaso que na capa, o nosso «herói» ostenta uma t-shirt a dizer «El Golfo». Subjacente está uma crítica à guerra que se sabe, mas também uma auto-crítica. Esta é (como convém?) uma música de extremos e paradoxos, onde a morte canta e a vida chora. «A resignação é um suicídio permanente», lembra Manu Chao no seu site. Mas entretanto parece ter percebido que a morte, por vezes, vem mascarada de palhaço.