
Memórias de Quem
Clean Feed, 2007
Os seus maiores admiradores chamam-se Fausto, Vitorino, José Mário Branco e Sérgio Godinho. Pianista virtuoso, mas também compositor, arranjador e orquestrador muito solicitado, João Paulo é um músico mais apreciado pelos seus pares do que pelo grande público, até porque os discos que tem semeado por aí (e já são bastantes), têm passado quase despercebidos, publicados por etiquetas estrangeiras. De qualquer modo, João Paulo Esteves da Silva não procura a fama. O que procura é a perfeição, nada menos. Para ele, improvisar é "soprar sobre o fogo do momento", "procurar no escuro um acender de lâmpada entre o visto e o esquecimento", como diz o belo poema (de Renatto Suttana) que o pianista escolheu para reproduzir nas notas do CD. Um poema que, em boa verdade, é uma bela descrição do trabalho do compositor/improvisador, sonhador inquieto que procura na memória o que poderá vir ainda a ser. Algumas composições são inspiradas em temas tradicionais judeus e portugueses. João Paulo nunca tocou tão bem, nem nunca nos tocou tão fundo. O título enigmático e a capa invulgar "escondem" um disco extraordinário, talvez o mais belo que ouvimos em 2007.