sábado, 21 de fevereiro de 2009
Cesária Évora
São Vicente di Longe
Lusafrica, 2001
São Vicente di Longe é oitavo álbum de originais da diva cabo-verdiana. Foi gravado em Paris, Havana e Rio de Janeiro e é, sem dúvida alguma, um dos mais ambiciosos de quantos publicou. Para se ter uma ideia dos meios envolvidos na produção deste São Vicente di Longe, saiba-se que as gravações envolveram cerca de 60 músicos e engenheiros de som e contaram com a participação de vedetas internacionais do calibre de Chucho Valdés, Bonnie Ryatt e Caetano Veloso. O disco, porém, não agradou a toda a gente. Os mais tradicionalistas devem ter achado que a produção foi longe demais, que há aqui excessos (musicais e tecnológicos) que não têm nada a ver com a música tradicional de Cabo Verde. Mas é talvez por isso mesmo que o álbum se chama São Vicente di Longe. Cesária tem passado mais tempo a viajar pelo mundo do que na sua casa do Mindelo. E se pensarmos que ela é constantemente solicitada para cantar com músicos dos mais variados quadrantes, não admira que a sua própria música sofre novas influências e inflexões. Coladeiras acompanhadas de percussões tipicamente caribenhas ou um cavaquinho substituído por um tres cubano, já não surpreenderão quem conhece Café Atlântico, o seu álbum anterior gravado parcialmente em Cuba, onde já estavam bem patente fortes influências cubanas e brasileiras, nomeadamente por força da intervenção de fundo de Jaques Morelembaum, que volta a colaborar neste disco, que inclui "Negue", uma canção popularizada por Maria Bethânia (aqui interpretada com acompanhamento ao piano de Chucho Valdés) e "Regresso", um tema tornado famoso por Alcione, com base num poema de Amílcar Cabral. Nesta canção, Caetano Veloso volta a comprovar que é um dos mais magníficos intérpretes vocais do nosso tempo. Como habitalmente, voltamos a encontar num disco de Cesária temas de B. Leza, Manuel de Novas e e Ti Goy, mas também de compositores mais recentes como Mário Lucio dos Simentera e, sobretudo, Teófilo Chantre, um dos autores preferidos de Cesária (e nossos), que assina aquele que é para mim, o tema mais bonito deste álbum, "Bondade e Maldade", uma harmoniosa combinação de morna e gospel, de pôr os pelos em pé. Não é o melhor álbum de sempre da cantora, mas não anda muito longe disso.