quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Annie Lennox



Bare
RCA, 2003

Diva (1992), Medusa (1995) e Bare (2003): três discos em 11 anos, não se pode dizer que Annie Lennox seja uma «workaholic». Na capa do seu terceiro álbum a solo, a metade feminina dos saudosos Eurythmics parece uma estátua de pedra. Uma qualquer deusa do amor, petrificada pelo seu próprio desejo (aquele olhar não engana). Mas é sobretudo de dor que fala o disco, e muito concretamente, da dor da separação, do amor desfeito (há, por exemplo, uma canção intitulada «Hurting Time» e outra «Loneliness» e mesmo uma «The saddest song I've got»). Por isso, o título do disco pode sugerir outras pistas: a elaborada nudez da cantora (e da música que ela aqui propõe) é a de alguém que quer pôr a nu a própria alma, que quer olhar nos olhos a adversidade. Bare é, nesse sentido, um disco soul, um álbum atravessado todo ele pela urgência de uma redenção como só a música - quando a entrega é total e absoluta - pode proporcionar. Musicalmente, e com a ajuda do seu produtor habitual Stephen Lipson, o disco está à altura desta desesperada necessidade de catarse e transcendência. E acaba mesmo por libertar-se de tanta angústia um sentido de esperança que explica o olhar ansioso, expectante da estátua da capa. Pode ficar descansada: ouvi-la é amá-la sem remédio.