
Chávez Ravine
Nonesuch, 2005
Chávez Ravine é, para mim, a obra-prima absoluta de Ry Cooder, um homem que já nos deu tantos discos inesquecíveis, desde a banda sonora de Paris, Texas ao seus «diálogos» com Ali Farka Touré. Neste Chávez Ravine, primeiro de vários conceptuais que temn vindo a gravar nos últimos anos, ele procura «ressuscitar» um bairro inteiro, quase uma pequena aldeia, nos arredores de Los Angeles, demolida nos anos 50 para construir o Dodger Stadium, o actual estádio de basebol. Inspirando-se num belíssimo livro de fotografias da época, assinado por Don Normak, Ry Cooder criou toda uma série de canções que evocam personagens reais e imaginários, histórias que ainda hoje se podem ouvir contar e sobretudo toda uma vivência que se perdeu irremediavelmente. Para cantar esta saga magnífica e comovente, o guitarrista rodeou-se de «sumidades» como o baterista Jim Keltner, o guitarrista David Hidalgo, o acordeonista Flaco Jimenez, a cantora Juliette Commagere, o trompetista Jon Hassel e os pianistas Chucho Valdés e Jacky Terrasson. Mas também, ou sobretudo, de figuras lendárias como Lalo Guerrero, verdadeiro «padrinho» da música «chicana», e Don Tosti, dito rei do «Pachuco boogie», ambos infelizmente falecidos antes do álbum sair (foram necessários três anos para a sua produção). O mínimo que se pode dizer é que não foram anos perdidos: Chávez Ravine é, para além de um condensado de boa música (tex-mex, jazz, R&B, blues, rock...), mais um monumento esplendoroso contra o esquecimento assinado pelo produtor do Buena Vista Social Club, que está a fazer por algumas das músicas do mundo o que a UNESCO faz com outro tipo de património. Bravo!