
Music Hole
Virgin/EMI, 2008
Tal como para Bobby McFerrin ou Meredith Monk (mas num registo completamente diferente, assumidamente pop) a voz é o grande trunfo de Camille, uma trintona que já colaborou com os Nouvelle Vague, Jean-Luis Murat e Gérard Manset e que, mais recentemente, se atreveu mesmo a cantar Benjamin Britten, ela que é autodidacta. Na sua carreira a solo, dois discos bastaram para a impor em França, onde hoje goza de um estatuto de diva junto de uma certa «inteligência». Le Sac à Filles, o primeiro álbum foi uma agradável surpresa, mas ninguém estava preparado para logo à segunda tentativa a jovem conseguir assinar uma obra-prima, Le Fil. Um disco com um fio condutor que consistia numa mesma nota que atravessava todo o álbum como um fio de Arianne. Nesse disco, ela fazia tudo, cantava, assinava os arranjos, tocava trompete e teclas, assegurava os break beats. Music Hole merece bem o seu nome. É uma espécie de buraco negro que aspira tudo à sua volta. A seu propósito já se falou de Bjork, claro está, mas também de Beyoncé e Kate Bush, Cindy Lauper e Boney M. Aqui nada é gratuito ou decorativo. Pelo contrário, sente-se que para esta rapariga cantar é uma maneira de estar na vida, de respirar o ar do tempo de se abrir ao mundo onde vive. Por isso, não é só a música, toda a música que é convocada, mas também a literatura, o cinema, a vivência quotidiana. Talvez Le Fil seja um melhor disco, mas este Music Hole não só é bom como é bonito.