quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Bonga



Live
Lusafrica, 2005

Em Angola, há muita gente que não gosta de Bonga. Não apenas por causa das suas opções políticas - ele nunca escondeu a sua simpatia pelo Galo Negro, no tempo de Jonas Savimbi - mas inclusive por razões artísticas. Para os seus detractores, a música que faz, e que tanto sucesso tem tido - principalmente em França -, não é «angolana» (seja o que for que isso quer dizer). É claro que é angolana, Bonga é natural daquele país e nunca o renegou, bem pelo contrário. Não é menos verdade, no entanto, que o músico já tem tanto de português como de angolano e é hoje um cidadão tão europeu como africano. Ou seja, Bonga é um angolano do mundo, um africano que soube rasgar horizontes e não ficar preso ao passado. E, evidentemente, a sua música reflecte isso mesmo. A sua música tem raízes em África (em Angola, mas também em larga medida em Cabo Verde) mas bebeu noutras fontes e abriu-se a outros ventos (algumas das suas composições denotam uma profunda influência da música popular portuguesa, por exemplo). Percussionista até quando canta - com aquela voz rouca, inimitável -, Bonga é um prodígio de bom humor e vitalidade; um daqueles músicos contagiantes que têm o ritmo no sangue e espalham boa disposição por onde passam. Daí a importância deste álbum, gravado ao vivo em 2004, no célebre New Morning de Paris, que o apanha no seu elemento: em cima de um palco, rodeado de amigos (Betinho Feijó, Lito Graça e Lura, entre outros) e perante uma plateia de fãs. Não admira que Bonga seja tão detestado: o seu talento transbordante e feliz é, com efeito, quase insultuoso para quem nunca sairá da mediocridade.

(Ler entrevista com Bonga em jorgedelimaalves.blogspot.com)