
Em 2005, Arnaldo Antunes veio a portugal para promover o álbum «Saiba». Alguns dias antes da sua chegada, pude trocar umas impressões com ele por telefone.
«Embora seja o 'show' de lançamento do Saiba, acaba sendo bastante abrangente em relação à minha carreira» - explica o músico - «tem músicas desde a época dos Titãs até canções do repertório Tribalistas, para além de temas de todos os meus discos a solo, para além de temas que nunca tinha cantado, como «Cabelo», que resultou de uma parceria com Jorge Ben Jor».
Para além de músico, o ex-vocalista dos Titãs é também artista plástico e, sobretudo, poeta. Para ele, embora sejam «actividades diferentes, todas elas envolvem de certa forma o uso da palavra. A palavra cantada na canção, escrita nos livros ou trabalhada com algum aspecto visual». Na verdade, ele não se considera artista plástico, mas uma espécie de poeta visual que incorpora elementos plásticos e elementos gráficos no seu trabalho. A palavra é, pois, uma espécie de território comum que lhe permite transitar entre diferentes linguagens, «mas sempre dando alguma significação poética» a tudo o que faz. Arnaldo confessa que acaba por usar o computador para tudo o que produz hoje em dia. «As novas tecnologias propiciam uma linguagem que é muito afinada com a minha maneira de trabalhar, que é a coisa da colagem». E dá um exemplo que o surpreendeu: «No cenário do 'show' do Saiba - da autoria de Susana Emaus, que vem trabalhando comigo desde o 'show' de Um Som - ela acabou incorporando detalhes super-ampliados de caligrafias minhas que eu tinha exposto em S. Paulo e no Rio».
No que se refere a Tribalistas, de que foi um dos protagonistas, confessa que não esperava tanto sucesso, «até porque tudo tinha sido feito de modo muito descomprometido, muito natural». A única explicação que vê para esse êxito fenomenal reside, precisamente, no facto de tudo ter sido feito «espontaneamente, de um jeito muito íntimo, sem muita pretensão comercial». Garante ainda que não estão a pensar «repetir a dose». «Nós já trabalhávamos juntos há uns dez anos, participando eventualmente nos projectos uns dos outros. Produzindo, compondo juntos, participando em 'shows'. O disco Tribalistas só estreitou ainda mais os nossos laços. Vamos continuar a trabalhar juntos, mas não necessariamente nesse formato».
Saiba conta, aliás, com várias parcerias com Carlinhos Brown e Marisa Monte, que também cantam no disco. Claro que eles não vêm a Portugal para estes concertos em Lisboa e no Porto, mas Arnaldo espera contar com a colaboração dos Clã (quando falámos ao telefone ainda não tinha a certeza dessa colaboração, por razões de calendário). Mas falou com grande entusiasmo do espectáculo Rosa Carne em Sintra, em que participou como artista convidado. Arnaldo Antunes garante ser grande admirador do trabalho dos Clã. «Gosto muito da mistura que eles fazem, meio rock'n'roll, meio-pop... muito original». E gosta, claro está, da voz e do carisma em palco da Manuela Azevedo, que acha «excepcional».