terça-feira, 21 de abril de 2009

Beirut



March of the Zapotec and Realpeople: Holland
Pompeii, 2009

Zach Condon, que se esconde por detrás do nome Beirut, adora viajar e fazer música. Os seus discos nascem dessas duas paixões e é sem surpresa que o seu novo álbum aparece dividido em duas partes, levando-nos agora (depois de, nos dois álbuns anteriores, nos ter transportado até aos Balcãs e a França) até ao México e à Holanda, curiosamente dois países que visitei recentemente. March of the Zapotec and Realpeople: Holland reúne duas obras diferentes, ou melhor dizendo dois EP's que ele decidiu juntar num único álbum, por razões que só ele conhece. March of the Zapotec, a primeira metade, nasceu de uma estadia em Oaxaca onde se rodeou de duas dezenas de músicos locais (pertencentes a uma tal Jimenez Band) para gravar meia-dúzia de faixas que oscilam entre a solonidade de um enterro e a explosão jubilatória de um carnaval. Nada que espante quem tenha assistido na região às festividades do Dia dos Mortos. A música resulta num verdadeiro carroussel de sensações vibrantes, que se ouve com real emoção. A instrumentação é riquíssima e sobre ela paira uma voz profunda e grave que parece a de um homem já muito vivido. Ora Zach (como se pode ver na capa do disco, onde a sua foto lembra Rimbaud) tem vinte e poucos anos. Realpeople: Holland, a segunda metade do álbum assenta essencialmente em sintetizadores e trabalho de estúdio, nomeadamente sobre a voz. É muito mais pop, mas menos interessante na minha opinião. Contudo, no seu conjunto, March of the Zapotec and Realpeople: Holland é mais do que um admirável exercício de síntese, uma obra inovadora que vai para além dos territórios da folk alternativa e da pop, onde alguns a querem confinar.