terça-feira, 10 de março de 2009
Susana Baca
Espíritu Vivo
Luaka Bop, 2002
Susana Baca assume-se como descendente dos antigos escravos africanos e ainda hoje sente a sua dor mas também as suas alegrias. Ou, como ela diz, «canto para afirmar que a vida é mais forte do que tudo o resto, e que é preciso manter o espírito vivo». Eco de Sombras, o seu magnífico álbum anterior, também editado pela Luaka Bop de David Byrne, foi gravado na sua casa em Lima, onde tiveram de se deslocar o produtor norte-americano Graig Street (conhecido pelo seu trabalho com Cassandra Wilson e k. d. lang, por exemplo), acompanhado por Marc Ribot e John Medeski, dois músicos da cena «downtown» nova-iorquina que trouxeram ao tradicional repertório da diva peruana uma real mais-valia. Para Espíritu Vivo, Susana Baca deslocou-se a Nova Iorque, para gravar com os mesmos músicos, exigindo no entanto fazê-lo ao vivo, em frente de uma plateia de convidados especiais. Quis o acaso que as gravações tenham decorrido na semana do fatídico 11 de Setembro, o que tornou as sessões bastante tensas e dramáticas. Mas a obra parece ter ganho com isso: nunca a voz da cantora soou tão generosa e soberana, para mais num repertório bastante diferente do habitual, onde até cabem versões verdadeiramente inovadoras de canções de Caetano Veloso («13 de Mayo», comovente celebração do fim da escravatura) e Björk («The Anchor Song»). Verdadeira diva no seu Perú natal, Susana Baca de la Colina é o contrário de «uma cantora de museu».