terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Madeleine Peyroux



Half the Perfect World
Rounder, 2006

A «Billie Holiday dos anos 90» - como lhe chamam alguns - andou desde pequena numa roda-viva entre a Califórnia, Nova Iorque e Paris. Não admira que a sua música denote erudição, sofisticação e cosmopolitismo. Veja-se o alinhamento deste disco, o quarto da sua carreira, intitulado Half the Perfect World: entre os compositores estão Johnny Mercer, Leonard Cohen, Joni Mitchell, Tom Waits, Serge Gainsbourg e Charles Chaplin. É caso para dizer: diz-me quem cantas, dir-te-ei quem és!
Senhora de uma voz meio-velada, sensual e segura (já não tão marcada por Lady Day como noutros tempos), com um timbre muito agradável e inconfundível, a cantora tem um inegável bom gosto para escolher o seu repertório e sabe rodear-se das pessoas certas. Para este álbum, trabalhou com Larry Klein (conhecido pelas suas colaborações com a imensa Joni Mitchell), Jesse Harris (um «habitué» de Norah Jones) e Walter Becker (dos Steely Dan), para já não falar de k.d. lang, com quem canta o único dueto do disco. Belas canções, portanto, bons músicos sem dúvida nenhuma (Sam Yahel, Dean Parks e Sam Bass, entre outros), uma boa voz e uma boa produção, como poderia o disco ser mau? Não é, evidentemente, mesmo se não agradará a toda a gente, como já aconteceu, aliás, com o álbum anterior, Careless Love, de 2004, também produzido por Larry Klein, que vendeu mais de um milhão de exemplares no mundo inteiro. Como Diana Krall e Norah Jones, com quem é frequentemente comparada, Madeleine Peyroux vende e vende muito, não sendo uma cantora de jazz ortodoxa (embora se reivindique da mesma atitude libertária e aventureira que sempre caracterizou a genuína música afro-americana).
Entre swing afrancesado (ocasionalmente abrasileirado), pop-jazz-rectro-futurista e folk bluesy, por vezes com insinuações havaianas, o álbum fará certamente as delícias de almas mais relaxadas e românticas. Se é verdade que só metade do mundo é perfeito (como parece sugerir o título do CD), na impossibilidade de agradar a toda a gente, é sempre bom poder pensar que se agrada à metade certa.