quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Lucinda Williams



Essence
Lost Highway, 2001

Lucinda Williams é uma sobrevivente. Já superou um cancro na garganta e talvez por isso canta com uma voz rouca, quase rachada, que nos faz eriçar os pêlos do corpo todo. Essence, o sucessor de Car Wheels on a Gravel Road, de 1998, é, como o título sugere, quase só «pele e osso». Ou seja, tem um mínimo de notas para um máximo de significado. Impressiona a simplicidade dos arranjos e a sinceridade das letras, extremamente femininas mas que evitam todos os «clichés» do género, mesmo que a senhora não prescinda do chapéu à «cowboy» e de outros acessórios próprios da mitologia «western». Ao longo de onze faixas dolentes, música e letra revelam uma paixão pelo pormenor que trai um perfeccionismo apaixonado, cultivado desde há muito. Não surpreende por isso encontrar o nome de Charlie Sexton associado à produção do álbum. Sexton é, também ele, um músico exigente, que toca guitarra como se ela fosse um instrumento de precisão. Cada nota conta, e cada uma delas toca-nos fundo. Não hesito em afirmar: Essence é uma verdadeira obra-prima, um daqueles discos que ainda ouviremos daqui a muitos anos.