
Voz d'Amor
Lusafrica, 2003
Cesária Évora tem vindo nos últimos anos a incorporar nas suas mornas e coladeiras influências latino-americanas que longe de trair as suas raízes cabo-verdianas as têm enriquecido. Contudo, para os que têm escutado os seus últimos discos, em particular São Vicente di Longe (2001), Voz d'Amor revela-se uma surpresa. Depois de altos voos em companhia de Caetano Veloso, Chucho Valdez, Pedro Guerra e outras estrelas, com este novo disco a cantora está de volta à simplicidade dos primeiros discos, quando tudo se resumia à sua voz e a um punhado de instrumentos acústicos superiormente tocados. Aqui estão mais uma vez representados os seus compositores preferidos - B. Leza, Luis Morais, Toy Vieira e Manuel de Novas, nomeadamente -, interpretados com a ajuda da sua banda habitual, com um ou outro convidado, como o brasileiro Hamilton de Holanda, que toca bandolim, o acordeonista Regis Gizavo (de Madagáscar) ou o violinista cubano Júlian Corrales Subida (que acompanhou Ibrahim Ferrer no seu primeiro disco da série Buena Vista). Apesar destas presenças, e mesmo se há tempo e lugar para uma versão tropicalizada de uma canção norte-americana intitulada «Greenfields» (que Teófilo Chantre transformou em «Jardim Prometido») e uma adaptação de «Beijo Roubado» de Ângela Maria, no essencial, Voz d'Amor, o nono álbum de Cesária Évora, é um disco feito a pensar nos que têm saudades de álbuns como Mar Azul ou Miss Perfumado.