quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Angá



Echu Mingua
World Circuit, 2006

Echu Mingua
, disco de estreia de Manuel Aurélio Diaz, dito Angá, tem a «griffe» inconfundível de Nick Gold - o afortunado «inventor» do Buena Vista Social Club - no que à qualidade das gravações e dos intervenientes diz respeito. Mas cabe sem dúvida ao próprio Angá - um percussionista que fez parte dos Irakere e tem colaborado com músicos de jazz como Steve Coleman, Roy Hargrove e Omar Sosa - o mérito de ter realizado um disco ainda mais surpreendente e inovador do que os de Orlando Cachaíto Lopez e Manuel Guajiro Mirabal, lançados com a mesma etiqueta. Tratando-se de um primeiro disco, Angá quis pôr nele tudo o que sabe e sempre quis fazer. Por isso, Echu Mingua é simultaneamente uma obra síntese, aberta a muitos «ventos» e marcada pela «santeria». Uma obra onde ecoa a tradição - tanto a mais longínqua como a mais próxima - e se antevê já o que poderá ser o «son» do futuro. Para gravar este disco, onde se exibem ainda as raízes rurais do músico e igualmente as suas experiências mais cosmopolitas, nomeadamente na área do hip-hop, Nick Gold não regateou meios e condições ao seu protegido. Assim, as gravações decorreram em Havana, Paris e Londres - sempre numa atmosfera muito relaxada, como se pode ouvir - e envolveram mais de trinta instrumentistas de todo o tipo, entre os quais os pianistas cubanos Chucho Valdés e Rubén Gonzalez (falecido entretanto), para além do maliano Baba Sissoko e dos franceses Malik Mezzadri e DJ Dee Nasty. Disco polirrítmico por excelência, de uma densidade tímbrica rara, que reivindica ainda por cima uma forte dimensão espiritual (para Angá, a música é inseparável da devoção religiosa), Echu Mingua é uma obra inclassificável, que figurou em todas as listas dos melhores discos world de 2005.